
No lugar de Morris, foi recrutado Jim Martin na guitarra. Diversos músicos ocuparam a vaga de vocalista nesta fase - dentre eles Courtney Love - até os membros optarem por Chuck Mosley, que participaria apenas dos dois primeiros discos da banda: We Care a Lot, de 1985, e Introduce Yourself, de 1987.
Mosley foi demitido em 1988 e os motivos da sua saída ainda geram certa discussão entre os fãs de Faith No More. A versão oficial seria de que Chuck foi mandado embora por ser alcoólatra e por ter causado problemas em alguns shows da banda. Entretanto muitos acreditam que o real motivo da demissão foi o fato de Mosley ser um vocalista limitado. No seu lugar foi escolhido Mike Patton, que rapidamente se tornaria a figura mais emblemática do grupo.

A banda na sua formação clássica Mike Patton entrou no Faith No More direto para o estúdio onde a banda gravou The Real Thing, lançado em 1989. The Real Thing é um verdadeiro divisor de águas na carreira do grupo, com músicas mais bem resolvidas e com o carisma de Mike Patton contribuindo para transformar o Faith No More num grande sucesso comercial.
A música responsável pela transição foi “Epic”, que com seu arranjo grandioso que faz jus ao título da música, vocal hip-hop e refrão grudento, arrematou o nº 9 na parada de singles da Billboard e teve o videoclipe exibido a exaustão na MTV americana. Com mais dois singles de sucesso, a contagiante Falling to Pieces e o rock de From Out Of Nowhere, o disco The Real Thing chega ao 11º na parada e atinge um milhão de cópias vendidas nos EUA.
O curioso é que internacionalmente, o sucesso da banda foi ainda maior. No Brasil, a MTV Brasil começava a dar seus primeiros passos em 1990 e o Faith No More foi uma das estrelas reveladas naquele ano. A popularidade conquistada pela banda no país impressionou seus próprios integrantes. Em 1991, o FNM tocou para o Maracanã lotado durante o Rock In Rio 2, iniciando um verdadeiro culto à banda nas terras brasileiras. O sucesso foi tão grande que eles retornaram no decorrer daquele ano para uma mini-turnê nacional.
Uma das características das apresentações ao vivo do Faith No More é o hábito das covers insólitas. Ainda antes do sucesso, a banda tocava a improvável Pump Up the Jam do Technotronic, apenas para infernizar suas platéias. Na época de The Real Thing, a banda incluiu no disco um cover de War Pigs do Black Sabbath, em um tempo onde a credibilidade artística do velho Sabbath era próxima a zero. Mas para War Pigs, a tática não funcionou e o Faith No More começou a atrair a atenção e o respeito do público do heavy metal. O que fez a banda? Substituiu War Pigs do repertório dos shows pela melosa balada Easy dos Commodores.
Depois de dois anos de turnê, era hora de pensar no próximo disco e as gravações não foram tranqüilas. O guitarrista Jim Martin estava descontente com os rumos que a sonoridade da banda vinha tomando. Rumores dão conta de que ele participou muito pouco das composições, limitando-se a enviar pelo correio as bases de guitarras em fitas K7 aos outros integrantes da banda.

Angel Dust rendeu mais uma turnê gigantesca pelo mundo todo. A turnê durou cerca de dois anos onde eles, além de promover shows próprios, tocaram em festivais e abriram shows para o Metallica e para o Guns N’ Roses ne mega turne Use Your Illusion.
Ao invés de encarar o compromisso como oportunidade de consolidar a banda em novos públicos, o Faith No More usou seu tempo para provocar a audiência com sessões de garra-fadas, insultos e sacanagens principalmente através de Patton. O saldo do período foi uma grande repulsão por parte dos adoradores de plantão, aqueles que há pouco tempo atrás veneravam os autores de Epic e ali não entendiam o não-comercialismo sarcástico da nova fase. Por outro lado, os fãs que seguiram em frente tornaram-se verdadeiros cultuadores do álbum e da banda.

Embora bem recebido por muitos fãs (e outros não-fãs), o álbum King For A Day, Fool For A Lifetime chegou de mansinho, com bem menos atenção que o anterior recebera. Com as guitarras gravadas por Trey Spruance, colega de Patton no Mr. Bungle, o álbum apostava em sonoridades mais cruas e bem menos elaboradas. Pela primeira vez a mesa de som era comandada por outro produtor que não o tradicional Matt Wallace. Um outro Wallace - Andy – seleto nome da produção de discos pesados, encarregou-se de aplicar sua mão pesada e distorcer ao máximo os acordes, dispensando bastante o trabalho de teclados nas músicas. O trabalho funcionou no quesito peso, mas no caráter experimental e caprichado que a banda necessitava as coisas deixaram um pouco a desejar. Trey teve dificuldades de aplicar seu estilo “torto” no panorama “mais convencional” do Fenemê e o resultado foi pouco empolgante, com altos e baixos no decorrer do trabalho. Mesmo com vocais brilhantes, era possível identificar o caráter burocrático que tomava alguns pontos do trabalho e o princípio de falta de sintonia entre os integrantes.
Alegando dificuldades em se adaptar à banda, Trey recusa o convite de participar da próxima turnê e o Faith No More escala o então roadie de teclados Dean Menta para fazer o trabalho ao vivo das guitarras. A banda passaria mais uma vez por nossas terras, tocando em uma edição do festival Monsters Of Rock. Mesmo reconhecido por fãs com uma certa simpatia, o álbum não empolgou da mesma maneira que os anteriores e passou despercebido pelas massas. A turnê européia terminou cancelada pela metade. Curiosamente, a este lançamento é atribuído o título de precursor do gênero new metal em que as bandas deste estilo seguidamente citaram-no como grande influência no método de composição e delineação sonora daquele movimento.
O momento seguinte se notabilizou pela grande proporção alcançada pelos trabalhos paralelos de seus integrantes. Patton entrou de cabeça no avant-garde, lançou outro trabalho solo e elevou o status de adoração do Mr. Bungle com turnês expressivas. O baterista Mike Bordin tocou com Ozzy Osborne, Roddy Bottum estreiou sua banda Imperial Teen.
Os rumores sobre um possível fim da banda tomavam proporções maiores e coube ao baixista Billy Gould segurar a peteca. Em um período de entressafra, Billy tornou-se o único integrante disposto a segurar a bandeira do quarteto em meio a rumores fortíssimos de uma inevitável dissolução. Partiu dele a iniciativa de convidar o amigo John Hudson, da banda System Collapse, para assumir as guitarras do disco a ser gravado.


A banda em Album of the Year. Curiosamente, os últimos meses do Faith No More caracterizaram-se por uma grande reverência a suas apresentações ao vivo. Notoriamente uma banda especialista em palcos, os rapazes passaram a apresentar o que muitos defendem ser os melhores shows da carreira. Mesclando músicas novas com hits e material antigo, passaram a arrecadar uma leva impressionante de fãs para os clubes europeus e australianos.
Com Mike Patton no auge de seu talento vocal e com a banda para lá de experiente, o Faith No More literalmente vestia terno e gravata para destilar suas músicas de maneira altamente empolgante. Mas os problemas citados tomaram proporções insuperáveis e foi através de um e-mail que Billy Gould, ao final de uma turnê européia, anunciou o tão falado final de atividades.
Dali para frente, com suas responsabilidades aliviadas, os integrantes passaram a dedicar seu tempo a projetos pendentes de forma integral. Roddy Bottum deu continuidade a seu Imperial Teen, lançando mais álbums e recebendo bons resultados no cenário indie. Mike Bordin assumiu as baquetas da banda de Ozzy, tocou em participações com Jerry Cantrell (Alice In Chains) e ajudou o Korn por uns tempos. Hoje exerce papel de baterista freelancer. Billy seguiu com pontas despretensiosas na banda Brujeria e deu início a uma gravadora obscura, trabalhando principalmente com artistas latinos. O guitarrista Jim Martin, após seu desligamento da banda, dedicou-se a projetos paralelos obscuros, chegando a lançar um disco solo chamado Milk And Blood. Fez pontas em um disco do Primus e participações em coletâneas. Hoje Jim reside em um rancho interiorano e dedica-se, além de seus projetos musicais, a plantar abóboras gigantescas. O grande foco ficou mesmo no lendário Mike Patton que surpreendentemente justificou o fim do Faith No More, dando aos fãs um motivo para acreditar que a banda devia sim chegar ao final. Além de seguir com suas participações com outros artistas inusitados, enfileirou projetos de qualidade em pouquíssimo tempo. Através de uma gravadora própria, a Ipecac, Patton criou um lar para seus projetos e outros artistas de seu interesse. O sucesso da Ipecac foi indiscutível, ajudado pelos órfãos do Faith No More Patton mostrou ao mundo o quanto prolífico ele era. Só em 2001, participou de 3 bandas de expressão: Fantômas, Tomahawk e Lovage. Todas marcadas pela experimentação musical, o não-comercialismo e a aparente falta de preocupação com o mercado. De forma madura e desencanada, Patton levou à sua maneira a tarefa de adotar os fãs que lamentaram o final desta que foi uma das bandas mais autênticas e cultuadas dos anos 90.

Em 2009, para a alegria dos fãs, a banda retomou as atividades em maio, durante o Download Festivel 2009, e em show marcados na Europa. O primeiro show da turnê aconteceu na Brixton Academy, mesmo local onde foi gravado o álbum ao vivo do Faith no More em 1990.

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