sábado, 11 de junho de 2011

PINK FLOYD

A história do Pink Floyd retrata outro grande acidente que o rock como um todo já pôde registrar. Isso aconteceu quando o seu líder inicial, Syd Barrett, se tornou um desequilibrado mental. Dotado de uma inigualável desinibição - tanto com respeito à vida, como à arte -, Barrett tinha tudo para fazer com que a sua banda viesse a ser a maior do rock progressista de todos os tempos. O único LP completo de que Syd participou, "The Piper at Gates of Dawn", é tão revolucionário, que só não causou maior furor, porque foi lançado no mesmo ano em que os Beatles fizeram "Sargeant Pepper".

Foi pouco depois desse disco que Barrett se desligou da realidade, vítima de sua própria ansiedade e também do consumo de drogas. Embora sua situação cause espanto a muitas pessoas, não vejo absurdo nisso. Uma pessoa com a mente igual à que ele tinha, em confronto com o mundo altamente mecanicista em que vivemos, no ocidente, só tem duas saídas: loucura, ou suicídio.
Particularmente, penso que Syd Barrett foi um dos mentores intelectuais de tudo que aconteceu de avançado no rock progressivo, depois de 1967. Mesmo o Pink Floyd não se constituiu na exceção a essa regra, depois que ele se afastou. Aliás, a banda encontrou o marasmo após ter esgotado tudo que Barrett deixou como herança. Fora tudo isso, foi graças ao Syd, em parte, que o movimento progressivo não se resumiu numa simples fusão do rock com a música clássica, como quiseram vários críticos do mundo todo.
A história se inicia em 1965, em Londres, quando George Roger Waters (nascido em Cambridge, 09 de setembro de 1944), Richard William (Rick) Wright (nascido em Londres, 28 de julho de 1945), e Nicholas Berkeley (Nick) Mason (nascido em Birmingham, em 27 de janeiro de 1945), estudavam arquitetura, na Politécnica de lá. Foi quando resolveram formar uma banda, que, inicialmente, se chamava Sigma 6. Posteriormente, foram mudando de nome, passando por T-Set, Meggadeaths, e Abdabs (com duas variações: Architectural Abdabs e Screaming Abdabs).
Nunca fiquei sabendo se a formação se manteve a mesma durante todas essas mudanças nominais. Sei apenas que os Abdabs tinham Mason (bateria), Waters (guitarra solo), Wright (guitarra base), Clive Metcalf (baixo), Keith Noble (vocal), e Julliete Gale (vocal). O que tocavam, basicamente, era rhythm & blues.
A carreira dos Abdabs durou pouco, não passando de meados de 1965. Metcalf e Noble nunca mais foram vistos, enquanto Waters, Mason, e Wright resolveram formar outro conjunto (Julliete Gale veio a se tornar a esposa de Rick Wright).
Para tentar a continuidade, dois amigos de Waters, ambos de Cambridge, foram convidados: Roger Keith (Syd) Barrett (nascido em 06 de janeiro de 1946) e Bob Close (data de nascimento ignorada). Ambos chegaram a tocar na banda, simultaneamente, mas Bob acabou por não permanecer.
Barrett era visto pelos colegas de um modo um tanto especial (meio guru, meio marginal), pois já havia tido experiências diversas, inclusive tomando drogas pesadas. Foi ele quem concebeu o nome Pink Floyd, que dizia ter aparecido numa visão (sabe-se, hoje, que gostava de dois Bluesmen da Georgia, chamados Pink Anderson e Floyd Council).
Durante quase dois anos, com a formação estabelecida em Waters (baixo e vocal), Barrett (guitarra e vocal), Wright (teclados e vocal), e Mason (bateria), a banda se apresentou em vários clubes e casas noturnas do underground inglês (UFO e Marquee, por exemplo), bem como em universidades. Foi somente em fevereiro de 1967, que conseguiram o apoio de um sujeito chamado joe Boyd, para a produção de uma gravação independente. A idéia consistia em realizar uma fita, e depois oferecê-la às gravadoras oficiais. Assim foi feito. Quem ofereceu as melhores condições pela fita foi a EMI, que deu a eles um contrato milionário. Da tal fita, que foi registrada pelo engenheiro John Wood, no estúdio Sound Techniques, a EMI aproveitou as faixas "Arnold Laine" e "Candy In a Currant Bun". Ambas apareceram no primeiro compacto, lançado na Inglaterra em 11 de março de 1967.
Com a aceitação da banda pela multinacional, Boyd recebeu o solene "pé no traseiro". Passou então a ser o produtor deles o Norman "Hurricane" Smith. Boyd já chegou a declarar à imprensa inglesa que a EMI gastou uma fortuna para tentar obter, em seus estúdios, o mesmo tipo de som de "Arnold Laine" no compacto seguinte ("See Emily Play"). Como não conseguiu, levou o conjunto ao Sound Techniques e pagou ao mesmo engenheiro para realizar a gravação. (Uma curiosidade aos colecionadores: o compacto "See Emily Play"/"Scarecrow" foi a primeira obra do Floyd a sair no Brasil, ainda nos anos sessenta, pela Fermata. Entretanto, não teve a menor receptividade, e sumiu).
Em 1967, a palavra da moda na Inglaterra era "psicodelia". Com isso, muitos passaram a se referir ao Pink Floyd como "Psychedelic Group". Mas, quem conhece o significado desse termo, na linguagem do underground, sabe que ele está intimamente relacionado com alucinações motivadas pela ingestão de barbitúricos. Essa conotação incomodava o pessoal da EMI. Assim, a empresa chegou a lançar manifestos tentando desvirtuar a terminologia.
O esforço foi em vão, pois tudo que Barrett escrevia era fruto de suas experiências pessoais. Além disso, as letras das músicas não enganavam as pessoas.
Em 05 de agosto de 1967, era lançado o primeiro LP, contendo um resumo de tudo que a banda havia desenvolvido em quase dois anos. Naturalmente, o disco não podia testemunhar por completo o que era o Pink Floyd, pois sabemos que tal produto não tem a propriedade de registrar efeitos visuais. E esses efeitos já existiam, nas apresentações ao vivo. O Floyd foi um dos primeiros conjuntos a cuidar melhor de jogos de luzes, projeções de slides, decorações de palcos e outros lances. Hoje em dia, grupos como ele são chamados de "performáticos ".
No Brasil, embora o Floyd demorasse a ser assimilado, o mesmo não aconteceu com suas manias. No final dos anos sessenta, era comum o uso de iluminações especiais (inclusive aquelas que simulavam alucinações) em festas e bailes da juventude (acredito que muita gente não sabe, mesmo hoje, que aquilo era fruto das idéias do Syd Barrett).
Antes do final de 1967, Syd principia a evidenciar os sintomas de desequilíbrio mental. Ao vivo, fica estático, insistindo sobre um único acorde, o tempo todo. Em entrevistas, nada responde, somente um olhar hipnótico. Seus colegas tentam contornar a situação, mas ela se torna insustentável.
No início de 1968, tentam uma solução que julgavam razoável: convidam o guitarrista David Gilmour, amigo de Waters e Barrett, a se juntar á banda. A intenção inicial era manter Barrett como o escritor das letras. Por algum tempo, o quintento sobrevive, mas a situação de Barrett se agrava e ele tem mesmo de ser afastado (em março de 1968).
O disco que marca a transição entre Barrett e Gilmour é "A Saucerful Of Secrets". Ali, há faixas com os dois guitarristas (as quais não sei especificar) mas em nenhuma estão juntos. Naturalmente, muitas dificuldades tiveram de ser superadas, para chegar perto do que a banda era antes. No entanto, nunca mais conseguiram retomar os propósitos iniciais.
De meados de 1968, para cá, o que se viram foram armações bombásticas sobre certos temas, trilhas sonoras para filmes e excursões megalomaníacas por vários países. Além disso, a exemplo de outros grupos, um LP com orquestra foi produzido ("Atom Heart Mother"). Na maioria dos trabalhos, as idéias de Barrett estavam presentes.
Certa atenção precisa ser reservada para o LP de 1973, "The Dark Side Of The Moon", que veio a se constituir no mais vendido da história do rock. Só na América do Norte, ficou por mais de dez anos entre os duzentos LP(s) mais procurados pelo público. Em compensação, depois dele, a banda iniciou a descer, lentamente, os degraus da glória. Em 1979, parecia ter readquirido o senso crítico, com "The Wall". Mera ilusão, confirmada com o LP "The Final Cut". A meu ver, foi a pior coisa que o Floyd fez. Foi um disco intimista, retratando a frustração de Roger Waters por não ter conhecido, o pai, falecido durante a segunda grande guerra. Fora isso, a obra veio à luz rodeada de mistérios, os quais deixavam claro que havia crise por trás dos bastidores.
Inicialmente, falava-se que iria trazer a trilha do filme "The Wall" (chegou a sair um compacto, com uma faixa chamada "When The Tigers Broke Free", citada como extraída do LP "The Final Cut", e pertencente à película). Quando o dito foi para as lojas, nada tinha a ver com o filme, bem como já não estava mais o Rick Wright. Numa entrevista à Circus, em agosto de 1983, respondeu Gilmour, com arrogância:
- "Wright não estava fazendo o que era pago para fazer. Em "The Wall", eu e o Roger Waters tocamos um bocado de teclados."
Atualmente, nada se fala sobre os rumos da banda. Só foram vistos, em 1984, discos solos de Waters e Gilmour. Quanto à configuração do fim, só o tempo poderá atestar.
NICK MASON
Um músico do Pink Floyd, que sempre mereceu atenção dupla, foi o baterista Nick Mason. Além de ter sido muito discreto, foi também arrojado, atuando em outras áreas musicais, tanto como produtor, quanto baterista. Mason deu contribuições a artistas como Michael Mantler e Carla Bley (jazzistas), bem como ao Robert Wyatt (vide Canterbury Sound). Em seu disco solo, convidou esses e outros músicos, e realizou uma das grandes obras que o jazz contemporâneo já teve a oportunidade de presenciar.
Em 2 de julho de 2005 e pela primeira vez em 24 anos, a formação mais clássica do Pink Floyd voltou a tocar, para a sua maior platéia, no Festival Live 8, em Londres. Em 15 de setembro de 2008 morre o tecladista Richard Wright, pondo um fim no sonho de um possível retorno da formação clássica do Pink Floyd.
 O último disco de estúdio dos Pink Floyd foi The Division Bell de 1994. A actividade da banda desde essa data foi a edição do álbum ao vivo P-U-L-S-E em 1995, uma versão ao vivo de The Wall, compilada dos concertos de 1980 e 1981, com o título de Is there anybody out there?: The Wall Live 1980-1981 em 2000, um Greatest Hits duplo chamado Echoes em 2001, a reedição em 2003 de The Dark Side of the Moon, comemorativo do 30º aniversário de lançamento do disco e a reedição de The Final Cut com o single When the Tigers Broke Free adicionado em 2004.
O álbum Echoes causou alguma controvérsia devido ao facto de composições se seguirem umas às outras continuamente numa ordem diferente da dos álbuns originais e de algumas terem sido cortadas substancialmente, como "Echoes", "Shine On You Crazy Diamond' e "Marooned".David Gilmour editou um concerto em DVD a solo com o título David Gilmour in Concert que saiu em novembro de 2002 compilado de espectáculos ocorridos no The Royal Festival Hall em Londres entre 22 de junho de 2001 e 17 de janeiro de 2002. Rick Wright aparece como convidado.O baterista Nick Mason publicou em 2004 um livro sobre a banda, Inside Out: A Personal History of Pink Floyd. O livro não é uma biografia definitiva do grupo, e sim uma visão pessoal das experiências vividas por Mason dentro dos Pink Floyd.Em 2 de Julho de 2005 os Pink Floyd apresentaram-se no concerto Live 8 no Hyde Park em Londres, um já tradicional evento beneficente que une diversas estrelas da música e idealizado e organizado por Bob Geldof. Reuniram-se Roger Waters, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright. Foi o primeiro concerto com os quatro membros em 24 anos, cuja última oportunidade com Waters havia acontecido no Earls Court em Londres em 1981.Após cerca de 30 anos de desavenças, Waters e Gilmour cantaram em uníssono We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year, running over the same old ground. What have we found? The same old fears, wish you were here. Além de "Wish You Were Here" foram tocadas "Breathe/Breathe Reprise", "Money" e "Comfortably Numb". Pink Floyd foi acompanhado pelo guitarrista Tim Renwick, o tecladista Jon Carin, o saxofonista Dick Parry e a vocalista Carol Kenyon.Em entrevista concedida ao jornal italiano La Repubblica no dia 3 de fevereiro de 2006, Gilmour indicava o fim dos Pink Floyd, declarando que o célebre grupo não produzirá qualquer novo material, tampouco voltará a se reunir novamente. Ainda assim, a possibilidade de se fazer uma apresentação similar ao Live 8 não foi descartada tanto por Gilmour ou Mason.O dia 11 de julho de 2006 assinalou um marco triste tanto para os ex-integrantes da banda, como para seus fãs, pois faleceu o fundador, ex-guitarrista e vocal Syd Barrett de causa não revelada. Barrett, então com 60 anos, sofria de diabetes há muito tempo. Segundo uma porta-voz da banda, Syd morreu "em paz".Espectáculos ao vivoSuíno gigante flutuando durante concerto de Roger Waters, tal qual na época do Pink FloydO Pink Floyd são reconhecidos pelos seus prodigiosos espectáculos ao vivo, que combinam as mais modernas experiências visuais com a sua música para criar um espectáculo onde os próprios artistas são quase secundários. Os Pink Floyd, nos seus primeiros tempos, foram das primeiras bandas a usar jogos de luzes próprios nos seus espectáculos, projectavam slides e filmes e formas psicodélicas numa grande tela circular. Mais tarde foram adicionados aos espectáculos efeitos especiais, incluindo lasers, pirotecnia e balões gigantes (um suíno gigante flutuava sobre a audiência durante a actuação de "Pigs" do álbum Animals).O espectáculo mais elaborado que os Floyd montaram foi o da digressão de The Wall, no qual um grupo de músicos contratados tocava a primeira música usando máscaras de borracha (provando assim que os membros da banda não eram reconhecidos pelas suas personalidades individuais). Depois, um gigantesco muro era erguido, separando a banda da audiência e que no final do espectáculo era demolido por explosões. Este espectáculo foi recriado por Roger Waters em 1990 no meio das ruínas do Muro de Berlim, convidando para o efeito músicos conhecidos como Bryan Adams, Van Morrison, Scorpions, The Band, Joni Mitchell, Cindy Lauper e Sinéad O'Connor.Os prodigiosos espectáculos ao vivo serviram também de base ao grupo de rock ficcionário Disaster Area de Douglas Adams (criadores do maior barulho do Universo, que usavam chamas solares nas suas actuações) na série The Hitchhiker's Guide to the Galaxy. Douglas Adams era amigo pessoal de Gilmour e tocou guitarra em um dos últimos concertos da tournée de “The Division Bell”, sendo que em uma das datas era seu 42º aniversário.






Nenhum comentário:

Postar um comentário